Como urubu tá sempre rodeando pra ver se encontra carniça, os religiosos todos vieram de Jerusalém pra se juntarem a Jesus e seus discípulos. Logo de cara começaram a implicar que eles comiam sem lavar as mãos. A tradição dos religiosos ensinava um monte de rituais sobre higiene e eles levavam isso muito a sério. O negócio era tão chato que, nos dias de hoje, um desses caras jamais comeria aqueles pastéis de feira que nós comemos, nem a bolacha recheada que caiu no chão mas ficou menos de cinco segundos na sujeira. E diziam: “Por que seus discípulos não lavam as mãos antes de comer?”.
Jesus respondeu: “O profeta Isaías bem que falou sobre vocês há muito tempo! Vocês são os manés que ficam posando de religiosos, mas o coração de vocês está muito distante de Deus. Se preocupam em ensinar coisas que são inventadas por homens e que muitas vezes negam o verdadeiro ensino dado por Deus. Querem um exemplo? Toda vez que vocês ficam com essa obsessão pelas coisas religiosas e se tornam negligentes com a família, estão fazendo e ensinando pessoas a fazerem o oposto do mandamento, que era de sempre dar honra aos seus pais”.
E completou: “Não se preocupem em se contaminar com as coisas que vocês comem. Isso é um problema menor. Se comer algo ruim, por pior que seja, geralmente só dá uma dor de barriga seguida de caganeira. Mas o que realmente te contamina são as porcarias que saem do seu coração e vem ao mundo pela sua boca. Daí é que vem os maus pensamentos, a traição, a falta de humildade, a loucura, a maldade, a inveja, a blasfêmia e todo tipo de sacanagem. Tomem cuidado é com isso!”.
Então se levantou e tirou o time de campo, indo pros lados das cidades de Tiro e Sidom. Discretamente, arrumou uma casa pra ficar mocado, mas uma mulher doida acabou o encontrando. E ela se jogava aos pés de Jesus, dava pití, chorava, gritava e fazia o maior escândalo, tamanho era seu desespero. Parecia brasileiro no mês de janeiro, quando começa a vencer o IPVA. E ela implorava pra que sua filha fosse liberta de um capeta que a atormentava, mas Jesus não deu nem moral.
Depois de muito o importunar, Jesus respondeu o porquê da ignorada básica. E disse: “Olha dona. Eu vim pra resolver primeiro as tretas do povo de Israel. Não vou tirar comida da boca dos meus filhos pra alimentar os vira-latas que moram no quintal”. Mas a mulher ao ouvir isso, respondeu: “Ô seu Jesus, tenha dó da gente, porque embora a gente seja esses vira-latas, até os cachorros comem pelo menos uns farelos que caem da mesa dos seus donos!”.
Diante dessa resposta, Jesus falou a ela: “Parabéns dona. Você entendeu tudo! Pode ir sossegada porque eu já resolvi o problema da sua filha”. E quando ela chegou em casa, confirmou que a menina tinha sido liberta exatamente na hora em que Jesus havia dito aquilo.
Continuando sua turnê pela região, Jesus passou por Decápolis, até chegar no mar da Galileia. Lá trouxeram um surdo que falava mal pra caramba e pediam pra que ele consertasse o sujeito. Jesus, puxando o cara com defeito pra um canto, colocou os dedos nos ouvidos do surdo e, cuspindo, encostou na língua dele. Aí olhou pro céu e disse “Abracadabra!”. Não! Na verdade ele disse “Abre!”, mas ficou mais engraçado pensar nessa história pensando em uma palavra mágica.
Naquela mesma hora, o cara passou a escutar, como se os dedos de Jesus tivessem funcionado como cotonetes que desentupiram aqueles ouvidos. E também passou a falar perfeitamente, pensando até em virar narrador de futebol.
Jesus pediu pro cara não sair contando isso pra ninguém, mas sabe comé que é né… gente que acaba de aprender a falar não consegue ficar quieto nem a pau.
E a galera pirava naquilo tudo, pois não havia problema que Jesus não dava jeito.