Saindo de casa um certo dia, Jesus foi pra praia. Aproveitando que um monte de gente se juntou pra ouvir ele falar, sentou num barco e improvisou um auditório ali mesmo. E dizia:
“Um sujeito foi fazer uma horta e levou sementes. Enquanto jogava sementes na terra, acabou jogando algumas em lugares não preparados. Umas caíram pelo caminho, mas os safados dos passarinhos comeram tudo. Outras foram plantadas nas pedras, e por falta de terra pra firmar as raízes, ficaram secas e feias, até que morreram igual a Dercy Gonçalves. Teve também umas que terminaram no meio dos espinhos e, acabaram morrendo também, porque espinho é mato e sufoca tudo que nasce junto. Mas as que caíram no solo preparado, deu verdura suficiente pra montar uma banca na feira. Prestem bem atenção no que eu tô falando!”.
Os discípulos ficaram perturbados com esse jeito de Jesus contar histórias, porque dava pra sacar que havia uma moral, mas as pessoas não tavam entendendo tudo. E ele explicou que tava falando assim pra que o povo não entendesse mesmo, pois os segredos de Deus eram pra ser explicados só pros mais íntimos. E dizia:
“Quem tem, vai ter mais. Quem não tem, vai perder até o pouco que tem. Eu conto essas histórias cabulosas pra essa galera ver e não enxergar; pra ouvirem mas não entenderem. O coração dessa galera tá duro! Ouvem o que eu digo e veem o que eu faço, mas não se importam. Por isso estou complicando as coisas, pra que não entendam e se convertam e eu tenha que curar todo mundo agora.”
“Sorte de vocês que estão percebendo as coisas que estou falando e mostrando! Muito profeta e caras que eram gente boa (na opinião de Deus) gostariam de estar aqui presenciando o que vocês estão assistindo”.
“Deixa eu explicar essa história que contei. O lance é o seguinte: quando a gente manda uma letra a respeito do reino de Deus e o cara não entende, vem o capeta e rouba o que foi plantado no seu coração. Esse aí é a semente que caiu no caminho”.
“A semente que nasceu nas pedras são os caras que ficam alegres quando ouvem minhas histórias, mas como são bunda-moles demais pra suportar as angústias da vida e a perseguição, desistem”.
“A semente que nasceu nos espinhos são as pessoas que empolgam com o reino de Deus, mas acabam não produzindo nada de bom, porque se sufocam com as preocupações envolvendo dinheiro, influência e poder”.
“O que foi plantado em terra boa é o que entende o que eu digo e produz muitos bons frutos com as pequenas sementes que eu coloquei nele”.
“O reino de Deus é igual um cara que plantou uva no quintal, mas aí veio o safado do vizinho e jogou sementes de bucha vegetal no mesmo terreno. Quando nasceram as trepadeiras, ficou complicado dizer o que era bucha e o que era a parreira de uva. Quando então o jardineiro se propôs a arrancar a bucha plantada pelo vizinho, o dono do terreno disse que era pra deixar os dois crescerem junto, pra não arrancar a parreira de uva junto sem querer. Quando crescerem, aí se separa as buchas e as uvas, e se queima essas buchas desgraçadas”.
“O Reino de Deus também é igual semente de mostarda. Parece um grão de areia e ninguém dá nada nela quando tá na palma da mão. Mas quando essa semente é plantada e nasce, a árvore fica tão grande, que serve de abrigo pra um monte de passarinhos”.
“O Reino de Deus também é igual Pó Royal. Quando colocado na farinha, contamina tudo e faz tudo crescer”.
E muitas histórias sinistras foram contadas por Jesus ali pra não desmentir o que os profetas haviam dito. Os discípulos ainda não tavam afiados em compreender as coisas, e pediram pra Jesus explicar essa história da plantação de bucha no meio das uvas.
“Quem planta uva sou eu. O terreno é o mundo e as boas sementes são vocês que são meus seguidores. As buchas plantadas são os filhos do capeta. O vizinho que jogou as sementes de bucha, é o próprio capeta. O jardineiro que vai separar no final as buchas das uvas são os anjos. As buchas irem pro fogo é o que eu vou fazer com essa galera safada que é filho do capeta. Não vai sobrar ninguém que se conforma com a injustiça. Vai ser quente e doloroso!”.
“Mas os justos vão brilhar como o sol. Prestem bastante atenção nisso que estou falando!”.
“O reino de Deus também é igual um tesouro que um pirata escondeu enterrado num terreno. Quando outra pessoa, cavando, encontra o tesouro, vende tudo o que tem pra comprar aquele terreno e possuí-lo legitimamente.”
“O reino também é igual quem vende joias. Quando acha algo sensacional, vende tudo que tem pra comprar o que encontrou”.
“O reino também se parece com um cara pescando com rede, que pega peixe de todo tipo. Mas quando puxa a rede pra praia, guarda os peixes bons, mas joga os ruins fora. Vai ser assim no fim do mundo. Os anjos vão separar vocês igual se separa peixes. E tá ferrado quem for jogado fora, porque vai ser doloroso pra caramba. Entenderam o que eu tô falando?”. E os discípulos balançavam a cabeça dizendo que sim, embora tenho minhas dúvidas sobre eles terem entendido tudo mesmo.
“O homem sábio, que conhece realmente o reino dos céus, é igual a um pai que tira do seu tesouro coisas novas e velhas”. E tendo terminado de contar todas essas histórias, vazou fora.
Quando chegou em sua cidade, foi no templo dos religiosos ensinar suas coisas. Os caras piravam o cabeção sem entenderem de onde vinha tanta profundidade e conhecimento. E diziam: “Pô, esse cara aí não é o filho do carpinteiro que é casado com a dona Maria, ali do final da rua? Ele é irmão daqueles moleques que brincavam aqui na rua, o Tiago, o José, o Simão, o Judas e umas meninas! Onde que esse cara aprendeu essas coisas loucas?”.
E Jesus respondeu: “Nem os grandes homens de Deus são reconhecidos na sua própria cidade e na sua própria casa”. E terminou nem fazendo uns milagres ali, porque duvidaram da capacidade dele.